ADUBAÇÃO DO MILHO
As tabelas de adubação são tradicionalmente montadas com base em análise de solo, que é o principal diagnóstico da disponibilidade de nutrientes para as plantas. Outros critérios utilizados incluem a expectativa de produtividade, as curvas de resposta obtidas experimentalmente em condições de campo, retorno econômico, particularidades da cultura e, em alguns casos, relações de nutrientes.
A definição das faixas de teores de nutrientes no solo, obtidas por experimentação, estabelece pontos importantes para guiar a confecção das tabelas (Figura 1).
Por exemplo, as faixas de teores “baixa” implicam que o solo não tem quantidades de nutrientes disponíveis para sustentar altas produtividades. As respostas à aplicação de nutrientes são bastantes altas. Solos nessas faixas de teores devem receber doses de nutrientes que supram a extração e exportação do nutriente em questão e deixem um adicional para enriquecer o solo de modo que ele passe, com o tempo, para faixas superiores.
Para solos com teores “médios”, as respostas à adubação esperadas são pequenas. As doses de nutrientes devem suprir as exportações, com um pequeno adicional para a manutenção dos teores no solo e, para culturas mais exigentes, elevar esse teor.
Quando o solo tiver teores altos, a adubação deve ser aproximadamente aquela necessária para repor as quantidades exportadas ou mesmo menores. Nesse caso já não há aumento econômico de produção em função da adubação e não há necessidade de elevar os teores no solo.
As recomendações para milho grãos e silagem são as mesmas, exceto para o potássio o qual é removido em grandes quantidades quando se colhe toda parte aérea da planta. Assim, as recomendações de potássio para milho silagem são bem maiores do que aquelas adotadas para a produção de grãos. O esgotamento do solo afeta principalmente a cultura subsequente.
Na nova edição do Boletim 100 (Duarte et al., 2023), as recomendações para o milho verão e o milho safrinha, que é o cultivo na segunda safra (semeadura de janeiro a março) sem irrigação, em sucessão a cultura de verão são as mesmas variando apenas a produtividade esperada. O plantio do milho safrinha na grande maioria é feito após a cultura da soja em sistema de plantio direto. Nesse sistema de produção ele se encaixa na classe de baixa resposta à adubação nitrogenada.
Tabela 1: Adubação mineral de plantio com fósforo e potássio: Aplicar de acordo com a análise de solo e classe de produtividade esperada
- MF= matéria fresca com 35% de umidade.
- É improvável a obtenção de alta produtividade de milho em solos com teores muito baixos de P, independentemente da dose de adubo empregada; no caso do K, a adubação pode ser suprimida quando para teores muito altos (>6,0 mmolc dm-3).
- Em solos com teores de P acima de 80 mg dm-3, aplicar somente 20 a 40 kg ha-1 de P2O5 como adubação de arranque;
- Doses recomendadas para a produção de grãos. O milho para silagem exporta grandes quantidades de potássio, as quais devem ser compensadas na cultura subsequente, na ordem de 30 kg de K2O para cada 10 t de matéria fresca de silagem, de preferência em aplicação a lanço antes do plantio. A aplicação de doses extras de potássio no milho para silagem é pouco eficiente devido ao consumo de luxo desse nutriente. Além disso, em solos arenosos pode haver perdas por lixiviação do excesso de K aplicado.
- A adubação potássica pode ser suprimida quando para teores de K muito altos (>6,0 mmolc dm-3)
Não utilizar doses elevadas de potássio no sulco de semeadura, evitando-se o contato com as sementes, para prevenir a redução do stand devido ao efeito salino. Quando os teores de K no solo forem baixos (< 1,5 mmolc/dm3) e as doses recomendadas iguais ou superiores a 80 kg ha-1 de K2O, é aconselhável, nos solos argilosos, transferir parte ou toda adubação potássica para a fase de pré-plantio, aplicando o fertilizante a lanço. Para o milho safrinha, em solo argiloso e de alta fertilidade com teores de K acima de 3,0 mmolc/dm3 é preferível praticar a “adubação de sistemas produtivos”, aumentando a adubação potássica na cultura da soja e retirando parte ou todo o potássio do milho.
Tabela 2: Adubação nitrogenada: Aplicar levando-se em conta a classe de resposta ao nitrogênio e a produtividade esperada, as seguintes quantidades totais (semeadura mais cobertura):
As classes de resposta esperada a nitrogênio têm o seguinte significado:
- Alta resposta esperada: solos corrigidos, com muitos anos de plantio contínuo de milho ou outras culturas não leguminosas; primeiros anos de plantio direto; grande quantidade de resíduos de gramíneas; solos arenosos sujeitos a altas perdas por lixiviação.
- Média resposta esperada: solos ácidos, que serão corrigidos, ou com plantio anterior esporádico de leguminosas; solo em pousio por um ano, ou uso de quantidades moderadas de adubos orgânicos.
- Baixa resposta esperada: solo em pousio por dois ou mais anos, cultivo intenso de leguminosas ou plantio de adubos verdes antes do milho; plantio direto estabilizado em rotação com leguminosas; uso constante de quantidades elevadas de adubos orgânicos.
Das doses de nitrogênio da tabela acima aplicar, de 30 a 60 kg ha-1 na semeadura e o restante em cobertura. Doses em cobertura iguais ou inferiores a 80 kg ha-1 podem ser aplicadas em uma única vez, no estádio de 4 a 5 folhas; doses superiores devem ser parcelas em duas vezes, sendo a primeira no estádio de 2 a 3 folhas e a última até o estádio de 6 a 7 folhas.
Quando nitrogênio e potássio forem aplicados no sulco de semeadura, a soma das quantidades de N e K2O não devem ultrapassar 80 kg ha-1 em solos arenosos com espaçamentos mais largos, ou 100 kg ha-1 em solos argilosos e espaçamento reduzido. Quando usar sulfato de amônio não ultrapassar 80 kg ha-1 de N + K2O. O restante da dose de potássio pode ser complementado junto com a primeira cobertura de N, pois aplicações tardias desse elemento são pouco eficientes.
No caso do milho safrinha, é fundamental aplicar o nitrogênio no momento da semeadura, complementando-o em cobertura nas lavouras de maior potencial produtivo. Quando cultivado em solos argilosos e espaçamento reduzido, doses até 60 kg ha-1 podem ser aplicadas a lanço, em uma única vez, imediatamente antes ou após a semeadura do milho. Essa aplicação deverá ser feita com as folhas secas para se evitar queimaduras do limbo foliar.
Em áreas irrigadas, o N pode ser parcelado em 3 ou mais vezes, até o florescimento, sendo as duas primeiras preferencialmente via equipamento acoplado ao trator e as demais via água de irrigação.
Enxofre e micronutrientes
Aplicar 20 kg/ha de S para metas de produtividade até 8 t/ha de grãos e 40 kg/ha de S para produtividades superiores, via fertilizante NPK no sulco ou fontes específicas de S a lanço e área total.
Utilizar 4 kg/ha de Zn em solos com teores de Zn extraídos com DTPA inferiores a 0,6 mg/dm3 e 2 kg/ha de Zn quando os teores estiverem entre 0,6 e 1,2 mg/dm3. A adubação foliar com Zn poderá ser aplicada em complemento a adubação no sulco de plantio e, exclusivamente, em solos corrigidos e manejos intensivos. Evitar concentrações de sulfato de zinco superiores a 0,3% e aplicar nas horas mais frescas do dia para evitar possível toxicidade.
Em áreas com histórico de deficiência de boro e/ou altas produtividades, aplicar 2 kg/ha de B na formulação NPK. O boro é pouco móvel na planta e aplicações foliares em plantas novas são pouco eficientes; as aplicações foliares são recomendadas apenas no estádio de pré-florescimento em lavouras de alta produtividade.
Referência bibliográfica
DUARTE, A.P.; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A. Milho para grãos e silagem. In: CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; MATTOS JUNIOR, D.; BOARETTO, R.M.; RAIJ, B van. Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 2022. p.199-200.