ENFEZAMENTOS E VIROSES DO MILHO

Os enfezamentos e as viroses são doenças vasculares sistêmicas que afetam a fisiologia e a nutrição das plantas de milho. Nas últimas safras, a abrangência dessas doenças tem sido ampla e recorrente, atingindo todas as regiões produtoras de milho do Brasil.

 

ENFEZAMENTOS

Os enfezamentos do milho referem-se a dois patógenos pertencentes à classe dos molicutes: o fitoplasma, agente causal do enfezamento vermelho, e o espiroplasma, causador do enfezamento pálido (Figura). As plantas doentes podem apresentar, além de avermelhamento ou amarelecimento em largas faixas nas bordas das folhas (às vezes estrias cloróticas a partir da base foliar), proliferação de espigas, espigas deformadas, perfilhamento na base ou axilas foliares, encurtamento de internódios (redução do porte) e grãos chochos. No entanto, as tonalidades da planta doente (amarelo e vermelho) não indicam necessariamente qual desses patógenos está ocorrendo. Esses patógenos são transmitidos pela cigarrinha-do-milho, Dalbulus maidis. Comumente a transmissão dos patógenos se dá nas plantas jovens, contudo os sintomas são notados no florescimento ou enchimento de grãos. Quanto mais cedo o milho for infectado, mais precoces e graves os sintomas.

 

Figura. Plantas de milho com sintomas clássicos de enfezamentos, vermelho (esquerda) e pálido (direita).

Fotos: Aildson Pereira Duarte (IAC)

 

Controle dos enfezamentos

Como medidas isoladas não têm surtido efeito satisfatório para o controle dos enfezamentos, um conjunto de ações são recomendadas para o manejo mais efetivo, de acordo com os diferentes períodos do ano agrícola. Essas medidas devem produzir melhor efeito se adotadas em nível regional.

Para a semeadura, é fundamental a utilização de cultivares diversificados com maior resistência ou tolerância aos enfezamentos e também usar sementes de milho tratadas com inseticidas registrados e com boa eficácia para o controle das cigarrinhas durante os primeiros dias após a emergência das plântulas. Não se deve semear milho nas proximidades de lavouras adultas com enfezamento e sim buscar sincronizar a semeadura em uma região, além de sempre respeitar o período de semeadura indicado para cada região.

Durante o cultivo, a presença da cigarrinha deve ser monitorada desde a emergência até o estádio ao redor de 8 folhas, mas especialmente no primeiro mês, até 3 a 4 folhas. Devem ser aplicados inseticidas químicos e/ou biológicos registrados e com boa eficácia para o controle desta praga, tais quais os neonicotinoides e organofosforados, de preferência em mistura ou alternados com produtos de modos de ação diferentes, para evitar favorecer a resistência da cigarrinha a inseticidas. O uso de produtos biológicos, por sua vez, também auxilia a preservar inimigos naturais de pragas, os quais contribuem para reduzir a população desse inseto. Na colheita, deve-se evitar a perda de espigas e grãos, pois poderão gerar plantas tiguera, onde o inseto vetor pode se alimentar e se multiplicar.

Na entressafra, recomenda-se rotacionar culturas ou fazer o pousio. Também é importante a eliminação do milho voluntário ou tiguera que pode ter emergido. Devem ser evitados plantios sucessivos de milho, principalmente tardios, os quais favorecem a reprodução do inseto vetor e a disseminação da doença.

 

VIROSES

Em estudos realizados no Estado de São Paulo pelo Instituto Biológico (IB) e Instituto Agronômico (IAC), verificou-se que predomina a ocorrência de viroses em conjunto com os enfezamentos e, em algumas regiões, a associação de diferentes viroses sem o fitoplasma ou o espiroplasma.

As viroses causam principalmente os mosaicos − com manchas cloróticas entremeadas pelo verde normal − e a risca no limbo foliar − riscas muito finas interrompidas pontilhadas e tracejadas (Figura).

 

Figura. Plantas de milho com sintomas de mosaico (esquerda) e risca (direita)

Fotos: Aildson Pereira Duarte (IAC)

 

São quatro os vírus identificados até o momento, sendo alguns transmitidos pela própria cigarrinha e outros pelo pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis), conforme tabela a seguir:

 

Tabela 1. Enfezamentos e viroses do milho, patógenos e insetos transmissores.

Atualmente, dentre as viroses do milho, as mais frequentemente encontradas no campo são o mosaico amarelo e o mosaico estriado, conforme resultados de análises de plantas sintomáticas realizadas em trabalhos dos Institutos Biológico e Agronômico de Campinas (Quadro 1). Diferentes espécies de vírus podem infectar simultaneamente uma mesma planta e, na maioria das vezes, os vírus do milho tem ocorrido em infeções múltiplas com duas ou mais espécies (Tabela 2).

 

Tabela 2. Frequência de viroses em oitenta amostras de plantas sintomáticas na rede de ensaios de milho do Instituto Agronômico (IAC), em diferentes localidades no Estado de São Paulo, em 2019 e 2020.  Análises realizadas no Instituto Biológico. Fonte: Gonçalves & Duarte, 2020.

*Avaliado apenas em 2020 (48 amostras verão e safrinha)

 

MOSAICO COMUM DO MILHO

 

Sintomas

Fotos: Gisèle Fantin

 

Os sintomas típicos, observados na grande maioria das cultivares de milho, são áreas alongadas de cor verde clara entremeadas às de verde normal. O crescimento das plantas e o tamanho das espigas podem ser acentuadamente reduzidos, conforme a estirpe do vírus e, principalmente, quando a infecção ocorre nos estágios iniciais do desenvolvimento.

Há, no entanto, a falta de melhores estudos em relação ao comportamento de alguns híbridos atualmente comercializados, que em associação à presença deste vírus, não apresentam os sintomas visuais clássicos do mosaico comum, mas ao atingirem o estádio de enchimento de grãos, tornam-se sintomáticos com má formação de espigas e quebramento de plantas, comprometendo a produção e a colheita.

Controle

Há diferenças quanto ao nível de resistência ou tolerância entre os materiais cultivados, mas não existem informações mais completas sobre indicação de cultivares visando o controle desta doença. Devem ser evitados, se possível, plantios tardios, pela maior população de insetos vetores do vírus. Além disto, a eliminação de gramíneas selvagens hospedeiras, como os capins massambará, colchão, colonião e capim-arroz, contribui para seu controle; devem ser evitados plantios nas proximidades de culturas de cana-de-açúcar infectadas com o vírus, que podem ser fontes de inóculo.

O controle químico utilizado para a cigarrinha do milho contribui para o controle dos pulgões vetores do mosaico comum, mas não promove um combate efetivo desta virose porque a transmissão se dá na picada de prova, antes da sua possível morte pelo inseticida. No entanto, o seu uso pode desfavorecer a disseminação para fora da lavoura, reduzindo novas infecções.

Por outro lado, ocorre naturalmente o controle biológico de pulgões, o qual é, em geral, eficiente, por estes serem muito procurados por insetos predadores, como joaninhas, e também vespas parasitoides. Entretanto, estes inimigos naturais também podem ser eliminados pelo uso intensivo e indiscriminado de inseticidas.

 

RISCA DO MILHO

 

Sintomas

  Fotos: Gisèle Fantin

 

Os sintomas apresentam-se como pequenos pontos e traços, distribuídos ao longo das nervuras secundárias e terciárias, e posteriormente podem fundir-se longitudinalmente formando linhas cloróticas estreitas e interrompidas.

Controle

As cultivares comerciais de milho apresentam diferentes níveis de resistência ao vírus, porém esta característica não é bem explorada. Medidas empregadas para o manejo dos enfezamentos, como evitar plantios tardios, eliminação de plantas voluntárias de milho e uso de inseticidas também contribuem para a redução da incidência desta virose, por ser transmitida pela mesma cigarrinha.

 

MOSAICO AMARELO DO MILHO

No ano de 2017, foi relatada em lavouras do Estado de São Paulo a presença de um novo vírus no Brasil, o Maize yellow mosaic virus, (MaYMV) do gênero Polerovirus, causando o mosaico amarelo do milho. Este vírus é transmitido pelo pulgão do milho Rhopalosiphum maidis, que também é vetor do mosaico comum do milho. O vírus do mosaico amarelo vem sendo detectado com bastante frequência em levantamentos realizados em diferentes cultivares de milho plantadas neste estado.

Plantas da ampla gama de gramíneas hospedeiras do pulgão R. maidis (milho, sorgo, capim massambará, entre outros) podem ser infectadas pelo vírus do mosaico amarelo, assim como pelo do mosaico comum, e servir como fontes de inóculo.

 

Sintomas

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotos: Aildson Pereira Duarte

 

Esta virose causa amarelecimento foliar, por vezes, como um mosaico em faixas paralelas que percorrem grande parte ou toda a extensão da folha. Como sintomas iniciais o tecido das folhas novas pode apresentar ampla clorose, podendo ocorrer também pontos e traços pequenos e estreitos alinhados, de tom próximo ao verde normal. Nas plantas adultas pode ocorrer clorose seguida de necrose entre as nervuras e ainda podridão de espigas.

Controle

Como esse vírus necessita de horas ou mesmo dias de alimentação do inseto vetor R. maidis numa planta infectada para que a transmissão efetivamente ocorra para uma nova planta sadia, o controle com o uso de inseticidas deste vírus pode ser mais eficiente que o do mosaico comum (SCMV), devido à sua aquisição e transmissão mais lenta pelo vetor. Desta forma, o controle químico do pulgão pode contribuir para o manejo desta doença. É importante, além disso, buscar preservar os insetos que atuam no controle biológico natural dos pulgões.

 

MOSAICO ESTRIADO DO MILHO

O Maize striate mosaic virus (MSMV), pertence ao gênero Mastrevirus, que engloba outras espécies de vírus conhecidas por causar grandes danos na cultura do milho, em especial no continente africano. Seu primeiro relato mundial foi no Brasil, em Itumbiara-GO, em 2017. Este vírus também foi relatado pela primeira vez em cana-de-açúcar no Distrito Federal no ano de 2021.

A doença causada por este vírus é o mosaico estriado do milho. O vírus é transmitido pela mesma cigarrinha que transmite os molicutes do enfezamento e o vírus da risca, D. maidis. Desta forma, o grande aumento observado da população destes insetos vetores pode estar contribuindo para uma disseminação mais rápida deste patógeno.

Sintomas

 

 

 

Fotos: Aildson Pereira Duarte

Os sintomas iniciais desta virose são um mosqueado no terço basal das folhas jovens da planta de milho que então evoluem para listras ou estrias cloróticas. As plantas infectadas também apresentam redução no porte, indicando que o vírus também afeta o crescimento e a produtividade de genótipos suscetíveis. Podem ser observados sintomas nas espigas, desde a alteração na cor verde para tons pálidos até a necrose das brácteas.

 

Controle

Os possíveis impactos da infecção pelo vírus do mosaico estriado tanto no milho como na cana ainda não foram determinados. Quanto ao seu controle, por ser transmitido pelo mesmo vetor do enfezamento, as medidas de prevenção e controle tomadas para a transmissão daquela doença podem ter efeito também no manejo do mosaico estriado. Além disso, a presença deste vírus em cana de açúcar no Brasil, sugere que esta cultura pode ser considerada como um possível reservatório de inóculo deste patógeno para o milho.

 

INFECÇÕES MISTAS OU MÚLTIPLAS

Observam-se também outros sintomas devido à ocorrência, na maioria das vezes, de infecções múltiplas de dois ou mais vírus na mesma planta, que também podem estar associados ao fitoplasma e/ou ao espiroplasma. As anomalias podem se iniciar em plantas jovens, tais como folhas espetadas, tortuosas e/ou quebradiças (Figura). Esses sintomas desaparecem (remissão de sintomas) ou permanecerem visíveis até o florescimento, com a possibilidade do cartucho e o pendão entortarem. Alguns híbridos, em determinados ambientes, apresentam poucos ou nenhum sintoma visual nas folhas, mas, ao atingirem o estádio de enchimento de grãos, ocorre necrose nas brácteas e má-formação de espigas (Figura) e ainda quebramento de plantas, comprometendo a produção e a colheita (Figura).

Figura. Sintomas de viroses em plantas de milho: folhas espetadas, plissadas (esquerda) e com estrias cloróticas (direita).

Fotos: Aildson Pereira Duarte (IAC)

 

Figura. Sintomas de viroses em plantas de milho: pendão torto (esquerda) e espiga com brácteas necrosadas (direita).

Fotos: Aildson Pereira Duarte (IAC)

 

Figura. Quebramento de plantas em plantas de milho com viroses.

Foto: Aildson Pereira Duarte (IAC)